23 de janeiro de 2014

Ela agora era só uma garota. Uma garota com milhões de estrelas que brilhavam como vagalumes na escuridão, e então sentiu-se minúscula diante da imensidão do mundo, da noite, das trevas e da luz. Envolta no manto negro do céu entendeu por fim que era solitária, ela e todo resto do universo. A riqueza do que se passa na alma nunca poderá ser verbalizada com inteireza, e se Lily não podia comunicar com perfeição o que via, sentia, cheirava, bem, era uma experiência solitária. Doeu, doeu pensar nas vezes em que disse e ouviu eu te amo, pois percebeu que a frase não traduzia com beleza seus sentimentos, e pensou na sua limitação de ler o outro. Olhou para o céu, novamente, e de novo, de novo... Respirou fundo até encher os pulmões de ar gelado e soltou com um sonoro ruído todo ar que inalou. E proferiu em voz alta: Como podemos amar tanto e nos sentirmos tão sós? Era dual compartilhar amor com alguém e ao mesmo tempo ter consciência que essa experiência se passava dentro, por isso a necessidade de abraçar, beijar, ter o outro em si, solver até a última gota, de suor, saliva... Porque era o mais próximo que podíamos chegar de alguém fisicamente, o mais perto que podíamos chegar da plena expressão do que é amar. Querer ser o outro e querer que o outro o seja, é coexistir sem anular, é fundir-se sem deixar de ser e sem impedir o outro de ser... Apenas é. Decidiu que naquela noite não abandonaria o mundo, ficaria mais um pouco, com suas vozes internas, com seus medos, com ela mesma... Afinal ela havia descoberto em sua solidão uma multidão em si.

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