Ela agora era só uma garota. Uma
garota com milhões de estrelas que brilhavam como vagalumes na escuridão, e
então sentiu-se minúscula diante da imensidão do mundo, da noite, das trevas e
da luz. Envolta no manto negro do céu entendeu por fim que era solitária, ela e
todo resto do universo. A riqueza do que se passa na alma nunca poderá ser
verbalizada com inteireza, e se Lily não podia comunicar com perfeição o que
via, sentia, cheirava, bem, era uma experiência solitária. Doeu, doeu pensar
nas vezes em que disse e ouviu eu te amo, pois percebeu que a frase não
traduzia com beleza seus sentimentos, e pensou na sua limitação de ler o outro.
Olhou para o céu, novamente, e de novo, de novo... Respirou fundo até encher os
pulmões de ar gelado e soltou com um sonoro ruído todo ar que inalou. E
proferiu em voz alta: Como podemos amar tanto e nos sentirmos tão sós? Era dual
compartilhar amor com alguém e ao mesmo tempo ter consciência que essa
experiência se passava dentro, por isso a necessidade de abraçar, beijar, ter o
outro em si, solver até a última gota, de suor, saliva... Porque era o mais
próximo que podíamos chegar de alguém fisicamente, o mais perto que podíamos
chegar da plena expressão do que é amar. Querer ser o outro e querer que o
outro o seja, é coexistir sem anular, é fundir-se sem deixar de ser e sem
impedir o outro de ser... Apenas é. Decidiu que naquela noite não abandonaria o
mundo, ficaria mais um pouco, com suas vozes internas, com seus medos, com ela
mesma... Afinal ela havia descoberto em sua solidão uma multidão em si.
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