Somos sós. Muito sós. Maquiamos a solidão enchendo nossa sala de estar de amigos, preenchendo nossas agendas com números e mais números de contatos, para ligarmos, falarmos, marcarmos uma festa. Criamos amores, fazemos sexo, falamos e ouvimos problemas alheios. Preenchemos os nossos dias com paixões avassaladoras que ocupam nossa mente 24hs, seja por uma overdose de presença do ser em questão, seja por uma overdose de pensamentos direcionados para este mesmo ser. Tudo isso para fugir da irrefutável sentença de solidão que nos ronda. Comunicamos solidões. Perceba com aflição (ou não, espero eu) que tudo que você elabora dentro de si e tenta comunicar ao mundo, passará pela capacidade do receptor de compreender a sua mensagem, este receptor pode ir além e enxergar mais na transmissão da sua mensagem que de fato você quis expor, ou compreender mediocremente, ou apenas compreender à sua maneira. Mas cada compreensão é singular. É como se possuíssemos um tradutor interno, este tradutor interno é como nossa digital, único. Este tradutor, que faz a leitura do mundo que nos circunda, é construído a partir de nossas experiências, crenças, genética, cultura, espiritualidade...!
Estamos imersos numa profunda solidão, suas visões são únicas, qualquer tentativa de explica-las é frustrada. Após emitir sua mensagem, seja esta falada, escrita, corporal, não importa, esta passará pela leitura alheia e tomará a forma da interpretação do outro. Pense em ondas sonoras emitidas, ela sai de você, bate no seu semelhante e ecoa de maneira distinta.
Por isso a arte nos toca tanto, uma música, uma pintura, uma escultura... Porque toca em conteúdos internos que ali, exposta, parece dizer exatamente aquilo que queríamos.
A comunicação é uma das coisas mais incríveis do mundo, milhares de pessoas tentando se fazer entender e compreender o outro. Por isso, o ato de comunicar é delicado, precisa de doçura mas assertividade, precisa de emoção mas também de lógica... Comunicar não escapa da necessidade do equilíbrio que em tudo há. E como tudo na vida, não há garantia de sucesso.
Comunicar-se não nos livra da solidão, mas é gostoso tentar ler o outro e tentar ser lida. Perceber como te percebem e às vezes se angustiar porque queria ser lida de outra maneira... Mas é a leitura do outro, e não o que é você. Somos sós... Mas se quiser, eu te ouço, a noite toda e vou tentar te entender... Uma eterna armadilha.