23 de janeiro de 2014

Ela agora era só uma garota. Uma garota com milhões de estrelas que brilhavam como vagalumes na escuridão, e então sentiu-se minúscula diante da imensidão do mundo, da noite, das trevas e da luz. Envolta no manto negro do céu entendeu por fim que era solitária, ela e todo resto do universo. A riqueza do que se passa na alma nunca poderá ser verbalizada com inteireza, e se Lily não podia comunicar com perfeição o que via, sentia, cheirava, bem, era uma experiência solitária. Doeu, doeu pensar nas vezes em que disse e ouviu eu te amo, pois percebeu que a frase não traduzia com beleza seus sentimentos, e pensou na sua limitação de ler o outro. Olhou para o céu, novamente, e de novo, de novo... Respirou fundo até encher os pulmões de ar gelado e soltou com um sonoro ruído todo ar que inalou. E proferiu em voz alta: Como podemos amar tanto e nos sentirmos tão sós? Era dual compartilhar amor com alguém e ao mesmo tempo ter consciência que essa experiência se passava dentro, por isso a necessidade de abraçar, beijar, ter o outro em si, solver até a última gota, de suor, saliva... Porque era o mais próximo que podíamos chegar de alguém fisicamente, o mais perto que podíamos chegar da plena expressão do que é amar. Querer ser o outro e querer que o outro o seja, é coexistir sem anular, é fundir-se sem deixar de ser e sem impedir o outro de ser... Apenas é. Decidiu que naquela noite não abandonaria o mundo, ficaria mais um pouco, com suas vozes internas, com seus medos, com ela mesma... Afinal ela havia descoberto em sua solidão uma multidão em si.

15 de setembro de 2013

De tanto (a)mar

"De tanto (a)mar me parti em marés, rebentando no quebra mar da solidão. De tantos braços d’agua se escoaram meus abraços e nenhum reteu gota alguma de minha enchente, de meu desaguar ao sentir tanto sentimento... Nenhum foi represa, nem acompanhou meu fluxo, só passei, água corrente que não sabe onde irá desembocar, decerto no (a)mar outra vez."
- Emile Andrade

9 de dezembro de 2011

Dos sofrimentos derramados no travesseiro...


Era bom chorar. Definitivamente era muito bom, se debulhar em lágrimas, sentir a garganta estreitar e olhos anuviarem enquanto mordia meu travesseiro. Lágrimas por mais doloridas que sejam demonstram sempre um coração que sente, uma alma que lamenta, uma pessoa que acredita e espera. Já se deparou com uma aridez emocional, onde seu coração é um deserto? Pois vou te contar, te contar como é não doer. Apunhaladas não te ferem, mentiras não te doem, o sofrimento não existe... E olha que irônico, a alegria também não. Como o branco existiria sem o negro, o doce sem o amargo? Precisamos do contraponto. Não dói, e por que não dói, o coração está morto.
O sofrimento é a força opositora a felicidade, e por isso mesmo a força que possibilita a existência de alegria. Sofrimento e felicidade coexistem sem se anularem, longe disso, contrastam, completam-se como o yin e yang. Se uma deixar de existir, a outra também some.

Por isso, doer é importante. Por isso não pode parar de doer. Sofrer (às vezes, que fique claro) é a característica de uma alma que ainda vibra, que ainda sente e por isso cresce. Chorar irriga a alma.
Sangrar, chorar, sentir... Isso te faz vivo.